sexta-feira, 16 de maio de 2008

Estar vivo...



Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.


Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.


Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.


Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.


Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte
ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de
iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que
desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que
estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.

Estejamos vivos, então!


Pablo Neruda

Um comentário:

Vera disse...

Peninha, também postei este poema esta semana. Por todas as razões invocadas pelo Poeta, por todas as emoções que andam cá por dentro, baralhadas e desordenadas.
É Lindo!
Fica bem na tua escrita.
É linda a fotografia!
Em sintonia com Os Cinco