domingo, 2 de novembro de 2008

"Em memória da Albertina, que Deus haja!"

«Este livro completa a trilogia que planeei quando escrevi "O Carteirista que Fugiu a Tempo", que continuei com "Não há lugar para Divorciadas" e que se fecha agora com "Em memória da Albertina, que Deus haja!" É sobre o sistema judiciário. Azimute é um simplório que passa a vida na prisão porque o seu processo está em perpétuo recurso e porque não tem telemóvel, o que impossibilita que o seu caso seja investigado. Sem escuta telefónica não há investigação. Muito menos sem carta anónima.
Reconheço que foi com um olhar pardo que viajei por estas páginas. Diria mesmo, sem esperança de que a coragem ou a sensatez regressem um dia. E quando parece que o fatalismo nos consome, a única forma de resistir continua a ser o riso. Riso negro, é certo. Mas é a única alavanca com que podemos fazer um retrato daquilo que cruza os nossos dias sem um chorar de vencidos. Devo confessar que já trilhei todos os caminhos do cansaço, desde fazer a denúncia (tudo está denunciado) até ao acto militante de empunhar a bandeira. Fernando Pessoa pedia que o deixassem «envolto num vago abandono brando/ a não ter que pensar». Como seu devoto, apenas quis não pensar e divertir-me com o Azimute como espero que o leitor se divirta. Porque, renegando o que disse, insisto o riso é a última arma para resistir. E, apesar de tudo, vale a pena resistir»

(...)» - Francisco Moita Flores


Nunca tinha lido nada de Moita Flores até que um dia a Kat me emprestou "O Carteirista que Fugiu a Tempo" (que entretanto tb comprei para ter em casa...).
Hilariante a história do carteirista Fred Astaire que nos diverte imenso e dá-nos a conhecer um mundo que desconhecemos por completo.
Entretanto soube que este livro fazia parte de uma trilogia do qual também faziam parte os livros "Não há lugar para Divorciadas" e "Em memória da Albertina, que Deus haja!". Mais uma vez a minha bibliotecária particular “Kat” tratou de me emprestar a deliciosa história do nosso Ministro da Guerra (daqui a 30 anos), Leónidas de Távora em "Não há lugar para Divorciadas".
Restou-me comprar "Em memória da Albertina, que Deus haja!" e conhecer mais uma divertida “figurinha”, O Azimute!!!!
Ao encontrar a sua amada Albertina com outro homem na sua própria casa, perde a cabeça e assassina os dois . A prisão foi o destino mais do que certo para a nossa personagem onde passou o resto da sua vida . Ao longo dos anos a liberdade para Azimute foi perdendo sentido e foi aprendendo a viver o mundo por entre as grades...
O livro é também uma forte critica ao nosso sistema judicial que continua a revelar-se lento, burocrático e injusto.

3 comentários:

OUTONO disse...

Fica em fila de espera...


Um abraço.

Kat disse...

Está na fila para a "triologia do Moita". Tenho conversado com alguns amigos sobre o Moita Flores e o gosto pelo autor não é consensual. Encontro com muita frequência pessoas que pura e simplemente não o leêm porque não gostam da sua forma de comentar e opinar por tudo e por nada, e por isso, nem o benefício da dúvida lhe dão, no género literário. Os que podiam pensar em ler alguma coisa dele, acham os títulos ou as histórias pouco adequadas, ou encontram outra qualquer razão para não lhe "pegar", pelo menos, voluntariamente.
Os romances dele são desde há muito tempo meus conhecidos e gosto particularmente da dose de humor e ironia das histórias que escreve e da forma divertida como descrever as particularidades da nossa sociedade enquadrada noutras épocas mas, na verdade, sempre actuais.

Tentem "descolar-se" da sua imagem televisiva e talvez tenham uma agradável surpresa ...
... ou não.

Kat

Peninha disse...

Kat, o que me leva a gostar dos livros está bem descrito nesta tua frase "...dose de humor e ironia das histórias que escreve e da forma divertida como descrever as particularidades da nossa sociedade...". Neste último livro a crítica ao sistema judicial é um espelho do que se passa hoje em dia!!! Depois e para aqueles que simplesmente não o leêm porque não o gostam de ouvir acho que estão enganados porque é totalmente diferente... É a mesma coisa que o Sérgio Godinho (que não gosto mesmo nada do que canta) lançar um livro e não o ler porque o homem canta coisas que me fazem cortar os pulsos. Se apenas se orientarem pelos títulos dos livros então jamais irão ler os livros... mas depois de lerem vão perceber o porquê dos títulos e até lhes vão achar graça. Eu nunca tinha lido nada dele e o que posso dizer é que gostei dos 3.