Apesar de já ter editado este texto numa rede social bastante conhecida :) optei por publicá-lo aqui também porque também foi neste espaço que partilhei muito desta minha experiência...
Faz hoje 4 anos, que levei o meu filho à Unidade de Neurodesenvolvimento e Autismo do Hospital Pediátrico de Coimbra, na altura com 2 anos e 9 meses.
Objectivo: Ser avaliado/observado por suspeita deperturbações do espectro do autismo.
Passados uns dias, foi preenchido o protocolo da consulta que permitiu confirmar o diagnóstico dessa perturbação. Resumindo, o P. tinha perturbações do espectro do autismo.
Como é normal, por mais que sejamos fortes e possamos pensar que estamos preparados para tudo, não estamos.... é óbvio que cada pessoa reage de maneira diferente e umas são mais positivas que outras mas é algo que mexe connosco.
Existem coisas piores é certo mas nestas alturas os nossos problemas são sempre os piores.
Autismo? Até altura e falo por mim, um mundo totalmente desconhecido e por isso a dúvida de se estaria preparado para ser o pai que o meu filho iria precisar. Era certo que uma criança não dizer uma única palavra com quase 3 anos, ter comportamentos e acções muito repetitivas e uma socialização diferente das outras crianças levou-nos sempre a supor que algo estava errado ou então que era apenas uma questão de tempo, afinal, umas crianças andam mais tarde que outras, outras falam mais tarde, cada criança tem o seu feitio...
O que é certo é que segundo a avaliação que lhe foi feita, na área de Comunicação/Autonomia e Socialização, o P. com 2 anos e 9 meses obteve resultados de uma criança com ano e meio.
Mas o que mudou nestes últimos 4 anos? Que experiência ganhei?
Tive muitas alegrias, obstáculos ultrapassados, bons momentos, momentos menos bons, as tais "tempestades neurológicas" ou alterações neurológicas que fazem com que se tornem incontroláveis e que nos fazem quase perder a paciência por não percebemos o porquê e o que desencadeia tudo isso, a ansiedade, a hiperactividade mas tb as suas conquistas, as dúvidas de se um dia será totalmente independente de nós, enfim.... os dias são vividos um após o outro mas sem dúvida que as grandes vitórias que ele vai conseguindo enchem-nos de orgulho.
"Eles" veêm o mundo com outros olhos e se por vezes tentamos que eles venham para o “nosso” mundo, de vez em quando temos que ser nós a entrar no maravilhoso mundo dos autistas e percebê-lo, no fundo um mundo onde se sentem protegidos, felizes, sem o mínimo de maldade.
O mundo dos autistas sem dúvida que tem algo de mágico, secreto e muito bonito...Devemos procurar ensinar competências a todos os autistas para que de uma forma natural possam caminhar e viver neste"nosso" mundo mas sem nunca tentar retirar-lhes o seu próprio mundo, pois eles vão sempre preservar o deles, onde vão sempre se refugiar porque é aí que se sentem bem, felizes e protegidos, mundo esse que também nos ensina muita coisa.
Peninha